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Outro lobo

Por Maria Beatriz Negreiros


Fonte: retirada do site Nobres do Grid
Fonte: retirada do site Nobres do Grid

Camillo Christófaro nasceu em 27 de abril de 1928 em São Paulo no Bairro do Canindé, onde passou toda a sua vida, e foi um dos pilotos brasileiros mais marcantes dos anos 1960. O interesse pelo automobilismo começou muito cedo graças à influência dos seus tios, os pilotos Chico Landi e Pascoal Landi, mas ouviu deste último que correr era coisa de louco. Com 122 corridas disputadas ao longo da carreira, subiu 59 vezes no pódio e venceu 22.


Aos 14 já trabalhava em uma oficina mecânica, aos 18 tirou a carteira de motorista e comprou um caminhão Ford que dirigiu a trabalho pelos cinco anos seguintes na antiga estrada Rio-São Paulo. Quando deixou as estradas, Camillo fez sua própria oficina no barracão dos fundos da casa dada pelos tios, onde levou quatro anos para construir seu primeiro carro de corrida, um Chevrolet 1937 transformado na carretera de número 18, apelidada de “Lobinho” por seu filho.



Fonte: retirada do site Nobres do Grid
Fonte: retirada do site Nobres do Grid

Do apelido veio o nome da sua escuderia, um lobo na pintura do carro e Camillo começou a ser chamado de o Lobo do Canindé. Sua primeira vez em pista, em 1954, disputando o Grande Prêmio Automóvel Clube do Brasil terminou em abandono. O sucesso como piloto veio três anos depois, quando ganhou suas primeiras corridas e título. Em 1957, fez mais dois carros e o Lobinho foi aposentado, no mesmo ano Camillo foi convidado por Djalma Pessolato para correrem II Mil Milhas Brasileiras.


Eles lideravam a prova, mas na volta 43 com Pessolato no volante, um cavalo entrou na pista, ele tentou desviar mas capotou e morreu. No ano seguinte, Camillo correria a III Mil Milhas Brasileiras com Jair de Melo Vianna, mas a caminho de um treino no Autódromo de Interlagos, Jair sofreu um acidente e faleceu. 



Fonte: Retirada do site Bandeira Quadriculada
Fonte: Retirada do site Bandeira Quadriculada

Em 1960, o Lobo veio à Brasília para participar do Grande Prêmio Juscelino Kubitschek, último evento da festa de inauguração da cidade. O GP teve “mini” corridas antes da principal, que aconteceu no Eixão Sul. Quando chegavam ao fim do eixo, davam a volta e continuavam a corrida em outra reta. O campeão, Jean-Louis Lacerda Soares, ganhou o troféu do piloto argentino Juan Manuel Fangio. Camillo chegou em nono lugar.


Camillo correu com Chico Landi algumas vezes durante sua carreira. A primeira vez foi nos 500 km de Interlagos, mas abandonaram com apenas quatro voltas devido a um incêndio no curto circuito do carro. Em 1962, participaram e ganharam a primeira edição das 12 Horas de Interlagos com uma FNM/JK, e em abril do mesmo ano a dupla também competiu nos Mil Quilômetros de Brasília.



Mas o parentesco e as parcerias em pista não impediram o tio de questionar a vitória do sobrinho no Grande Prêmio do IV Centenário do Rio de Janeiro. Segundo Landi, na época chefe de equipe da Simca, o carro de Camillo, uma Ferrari 250 GTO Drago, era na verdade uma GT adulterada, mas o seu recurso para reaver o resultado foi negado pelo Automóvel Clube do Brasil (ACB). 


Apesar dos abandonos durante a carreira, as vitórias foram igualmente significativas, como a da VIII Mil Milhas Brasileiras em dupla com Eduardo Celidônio dirigindo uma carretera de motor V-8. Considerada uma das mais dramáticas Mil Milhas, Camillo e Celidônio superaram  Emerson Fittipaldi e Jan Balder com três voltas para o fim por conta de uma chamada ‘falsa’ para o box por parte dos adversários.


A ideia do piloto remete a algo individualista, mas Camillo sempre frisava que era uma equipe. Chegou a receber convites para correr com fábricas, mas recusou todos por não poder levar seu time e também por acreditar que perderia a paixão se aceitasse. Para ele, as fábricas não se interessavam pelo piloto e a vitória servia de propaganda para vender o carro, além de que, estando com elas, tudo ficava muito fácil.


Nem tudo se resumia à paixão pela velocidade, com a experiência e o nome já consolidado, os títulos perderam a importância e ele passou a entrar apenas em provas que tinham bons prêmios para compensar todas as despesas. As vitórias lhe traziam patrocinadores, pneus, combustível e até carro para as competições.


Ainda nos anos 1960, Camillo foi em busca do sonho de correr nos Estados Unidos. Tudo começou quando uma fábrica prometeu NCr$ 35 mil (Cruzeiro Novo) para correr em Indianápolis, ele foi mas não correu, o dinheiro não dava nem para começar. Quando voltou, não desistiu do sonho, juntou dinheiro, jogou na loteria, mas infelizmente deixou a carreira de piloto sem essa conquista.


Em 1971 aposentou a carretera, depois testou o Fúria Ferrari do automobilista ítalo-brasileiro Toni Bianco e um Dodge Chrysler nacional, mas a partir de 1973 começou a dirigir um Maverick Ford V8 até encerrar a carreira de piloto três anos depois. 


Em 1975, o Lobo conquistou o sonho de correr junto ao seu filho Camilo Christófaro Junior, o Camilinho, ao pilotar um Maverick Ford V8 nas 6 Horas de Interlagos. Eles lideravam a prova, mas faltando menos de uma hora para o fim, Camillo perdeu o traçado na Curva do Sol e colocou uma roda na grama ainda molhada pela chuva, o carro deslizou e colidiu com a barreira de proteção externa e atravessou para a barreira interna, ficando completamente dobrado ao meio.


Quando parou de correr, se dedicou para a mecânica, a Escuderia Lobo e a carreira do filho, mas sua última prova definitiva foi a XIX Mil Milhas Brasileiras em trio com Camilinho e Americo Beertini com um Chevrolet Opala, terminaram em terceiro lugar. Essa foi a última Mil Milhas no circuito antigo de Interlagos.



Fonte: Retirada do site Bandeira Quadriculada
Fonte: Retirada do site Bandeira Quadriculada



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